Em comunidade marcada pela luta e martírio de Gabriel Filho, Articulação Camponesa discute estratégias de resistência no Tocantins
Por CPT Regional Araguaia-Tocantins

“Fazer memória é um ato político da maior importância. Perdoar sem fazer justiça, isso não cura as feridas, não trata suas raízes e não gera paz. Isso não prepara o futuro, pois a paz só existe com justiça. Do contrário, é a paz da amnésia, a paz dos cemitérios.”
A Comunidade Gabriel Filho, localizada no município de Palmeirante/TO, território marcado pela luta e por intensos conflitos fundiários, sediou a última reunião da Articulação Camponesa de Luta pela Terra e Defesa dos Territórios no Tocantins, que aconteceu no dia 19 e 20 de setembro de 2025, reunindo 80 lideranças camponesas e quilombolas para celebrar a memória histórica do movimento e discutir estratégias de resistência.
Foi neste mesmo chão que em 2011 nasceu a Articulação Camponesa – AC, “forjada no sofrimento imposto pela violência, pela grilagem e pela exclusão, a Articulação floresceu como resposta coletiva, unindo camponeses, quilombolas, indígenas, posseiros e ribeirinhos em torno de um mesmo sonho: terra, justiça, dignidade e vida”, como pontuou Silvano Rezende, histórico assessor jurídico da CPT, durante a reunião.

Um dos momentos mais significativos desse encontro ocorreu durante a celebração no local onde foi assassinado em 2010 pelas mãos assassinas do latifúndio, o companheiro Gabriel Vicente de Souza, vulgo Gabriel Filho, cuja vida e morte seguem como símbolo da luta camponesa. No ato, vozes fortes ecoaram “Gabriel Filho: Presente! Presente! Presente!”, reafirmando que sua memória permanece viva e sedenta por justiça e paz no campo.


A Comunidade Gabriel Filho, é uma ocupação profundamente marcada pela luta e pela memória de seu mártir, liderança assassinada por defender o direito à terra, à vida e à dignidade. As famílias, mesmo vivendo em condições de vulnerabilidade e extrema insegurança, permanecem firmes na luta, reivindicando a criação do assentamento junto ao Incra através do Decreto 433/1992, medida urgente e indispensável para garantir vida, segurança e futuro às famílias que há mais de 15 anos dedicam sua vida à luta pela reforma agrária no Tocantins.

Durante a reunião, as lideranças camponesas refletiram coletivamente sobre os processos recentes de mobilização, formação e articulação no estado, reafirmando a importância da unidade e da organização popular frente aos desafios vividos nas comunidades. O espaço foi marcado pelo resgate da memória, pela partilha de experiências e pela projeção de estratégias comuns, consolidando a Articulação Camponesa como um movimento social de resistência e de construção de caminhos para a reforma agrária, regularização e defesa dos territórios no Tocantins.
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