Irmã Rita de Murici: uma trajetória de luta, educação popular e transformação social
Por Edcleide da Rocha Silva1

Nascida em 15 de maio de 1972, Maria Rita Rosa dos Santos — conhecida como Irmã Rita no território alagoano — é símbolo de resistência, sabedoria e inspiração para as mulheres camponesas do Brasil. Sua trajetória entrelaça fé, militância e educação popular, revelando o poder transformador da organização coletiva.
Ainda adolescente, aos 13 anos, começou a participar das lutas sociais em Sergipe, estado onde viveu sua infância e juventude. Foi ali, junto às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que Irmã Rita iniciou sua militância, em um contexto marcado pela mobilização popular contra a ditadura militar e pela reconstrução dos direitos civis do povo brasileiro.
Com a redemocratização do País e a promulgação da Constituição Federal de 1988, Maria Rita passou a atuar em Alagoas, fortalecendo a articulação das Mulheres Trabalhadoras Rurais e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Seu nome “Irmã Rita” surgiu da convivência com freiras da Teologia da Libertação com quem muito caminhou e aprendeu sobre a importância da organização, formação e luta das mulheres do campo. Foi então rebatizada como Irmã Rita de Murici, em referência ao território onde atua.
Em 2004, participou da consolidação das articulações que culminaram na criação oficial do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), durante o I Congresso Nacional do Movimento — um marco histórico na luta por autonomia, dignidade e direitos das mulheres rurais.
Assentada da Reforma Agrária no Assentamento Dom Helder Câmara, no município de Murici (AL), Irmã Rita é uma educadora popular comprometida com a formação política e social das mulheres do campo. Sua atuação é marcada pela defesa da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), da alimentação saudável, da saúde natural, das plantas medicinais e das sementes crioulas — temas que a levaram a buscar formação técnica em alimentos.

E foi no dia 9 de setembro de 2025, aos 53 anos, que Irmã Rita realizou um sonho antigo: concluiu o ensino médio técnico em Alimentos pelo Instituto Federal de Alagoas (IFAL), campus Murici. A formatura foi celebrada como uma conquista coletiva, reconhecida como símbolo da luta popular alagoana e do MMC, que há décadas constrói caminhos de emancipação para as mulheres do campo. “Quando uma mulher avança o mundo avança junto”.
“Às vezes lutamos pela liberdade e pelos direitos das companheiras, e nos realizamos quando as jovens conseguem aquilo que não tivemos. Mas às vezes é preciso também garantir nossos próprios sonhos. Eu tinha o sonho de me formar para poder ocupar espaços que nos são negados pela vida, só porque não temos um diploma. Hoje eu saio dessa celebração com a formatura no coração e nas mãos. É uma conquista minha e do MMC-AL, pois esse movimento é nossa vida!” – Irmã Rita
A história de Maria Rita é um convite à esperança e à ação. Que, por meio dela, muitas outras mulheres camponesas se reconheçam e se sintam encorajadas a ocupar espaços de formação, liderança e transformação. Como diz a canção que embala tantas lutas populares:
“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas se sonhamos juntas, é realidade.” – Irmã Rita
- Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e militante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC Alagoas) ↩︎
Ser uma mulher camponesa é ser terra boa onde nós mulheres camponesas cuidamos das sementes boas criolas onde o meio ambiente é nossas casas , onde o ar puro nos alegra e a água nos alimenta e isto só encontra nos assentamentos de reforma agrária com feminismo existe agrecologia