Carta do 16º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

Terra Indígena Taquaritiua, do Povo Akroá Gamella, em Viana/MA, recebeu o 16º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Foto: Cruupyhre Akroá Gamella
Terra Indígena Taquaritiua, do Povo Akroá Gamella, em Viana/MA, recebeu o 16º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Foto: Cruupyhre Akroá Gamella

Retomar territórios para tecer o bem conviver.

Baixe aqui a Carta do 16º Encontrão da Teia.

A Terra Indígena Taquaritiua, do Povo Akroá Gamella, em Viana, MA, recebeu, entre os dias 20 e 24 de agosto de 2025, o 16º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Cerca de 2.000 indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, pescadoras/es, marisqueiras, sertanejas/os e agricultoras/es se reconheceram e reafirmaram, nestes cinco dias, o compromisso comum da retomada do território como base para tecer o bem conviver.

A realização do Encontrão na Terra Indígena Taquaritiua teve um propósito perpassado de simbologia, por ser território em retomada de uma das mais difíceis lutas do povo em resistência Akroá Gamella que, em 30 de abril de 2017, sofreu um massacre. E foi este o tema central das trocas de experiência, análises, ensinamentos e compartilhamentos deste momento de acolhimento sem tamanho: a nossa existência neste momento é fruto da luta que se faz a partir da coragem de cortar as cercas que nos excluem, coragem sem a qual o Estado não nos enxerga nem nos respeita.

A retomada é, assim, a resposta àqueles que temem e combatem a nossa alegria, que nos querem acuados, colonizados e encolhidos para nos impor suas leis e vontades e destruir nossos modos de vida.

Entendemos como retomada o que fazemos para garantir nosso direito de existir, usurpado e ameaçado tanto pelo Estado quanto pelos poderosos do capital, do agronegócio, do crime organizado da grilagem, do trabalho escravo, dos grandes empreendimentos da mineração, de mercado de carbono, de energia renovável, de logística – como portos, ferrovias, rodovias, hidrovias, hidrelétricas ou linhões -,  e também dos mercadores da fé, que adentram nossos territórios e nossas casas para arrancar nossa alma e nossa ancestralidade para colocar no lugar seus dogmas e pecados. Contra eles todos, estaremos em resistência.

Mas retomada também é um caminho de fortalecimento dos laços entre nós, os povos e comunidades tradicionais, assim como na articulação das nossas comunidades para o enfrentamento coletivo ao que nos ameaça a todos/as/es. Por isso, o Encontrão lançou flechas, que são nossos objetivos comuns: 

– A autonomia de construir nossos próprios projetos de educação, ocupar os espaços de formação formal para a nossa gente, para que indígenas tenham professores indígenas, quilombolas professores quilombolas, cada comunidade os seus, para que aquilo que nos identifica, nossos conhecimentos e ancestralidades, sigam vivos e valorizados nesta e nas futuras gerações;

– Que as violências contra as mulheres sejam reconhecidas, repudiadas e combatidas por todos, para que homens e mulheres componham, em complementaridade, um só organismo capaz de construir em plenitude o bem conviver de nossas comunidades;

– Que sábias e sábios sejam escutados e tenham reconhecidos pelas novas gerações a fundamental importância que seus conhecimentos têm para a preservação e o fortalecimento de nossas identidades e;

– Que a Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão se conecte e construa redes com outras articulações, organizações e órgãos que fazem enfrentamentos a ameaças semelhantes às que nos atingem e podem colaborar na garantia de nossos direitos.

Neste 16º Encontrão da Teia Maranhão, discutimos concretamente como o projeto Grão Pará Maranhão, que pretende construir um porto na Ilha do Cajual, em Alcântara, e uma ferrovia de mais de 500 km até Açailândia, nos ameaça a todos, aceitando o desafio de nos fortalecermos na resistência contra este projeto. Falamos do direito de sermos consultados pelo Estado antes da implementação de qualquer projeto que impacte nossos territórios e modos de vida, e afirmamos que exigiremos o cumprimento do que está previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Sabemos que os ataques são muitos, que os que nos atormentam são fortes, mas mais fortes somos nós, unidos em nossa Teia de Povos e comunidades tradicionais do Maranhão.

É com esta certeza e com o compromisso de avançarmos e fazermos nossos caminhos com os próprios pés que nos despedimos do território da TI Taquaritiua, para nos encontrarmos em 2026 na comunidade Quilombo Tanque da Rodagem para o 17º Encontrão da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão e celebrar 15 anos de existência da nossa articulação.

Avançaremos!!

Terra Indígena Taquaritiua, 24 de agosto de 2025

(Crédito das fotos: Cruupyhre Akroá Gamella)

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