Luta, Esperança e Agroecologia: XIV Encontro de Camponeses e Camponesas do Tocantins e VII Encontro Tocantinense de Agroecologia

Com cerca de 300 pessoas presentes, o encontro fortalece a agroecologia e a luta pelos territórios. Foto: CPT Tocantins
Com cerca de 300 pessoas presentes, o encontro fortalece a agroecologia e a luta pelos territórios. Foto: CPT Tocantins

Povos camponeses, originários e tradicionais se reúnem no Tocantins em encontro que fortalece a agroecologia e a luta pelos territórios

Entre os dias 27 e 30 de agosto, a comunidade Barriguda, divisa entre os municípios de Goiatins-TO e Barra do Ouro-TO, sediou o XIV Encontro de Camponeses e Camponesas do Tocantins e do VII Encontro Tocantinense de Agroecologia, que este ano se uniram em uma única programação. O evento reuniu mais de 300 pessoas, dentre lideranças comunitárias do campo, representantes de movimentos sociais, organizações parceiras e povos do Cerrado e da Amazônia. Um espaço de partilha, reflexão e celebração em defesa da vida e dos territórios.

A união dos dois encontros simbolizou a força coletiva de comunidades camponesas, quilombolas, indígenas e extrativistas, que reafirmaram a agroecologia como caminho de vida, resistência e justiça social. Durante os dias de atividades, os participantes trocaram sementes, compartilharam experiências, além de debaterem temas centrais como racismo ambiental, luta pela terra, gestão territorial, juventudes, gênero, saúde mental e educação do campo.

Foto: CPT Tocantins
Foto: CPT Tocantins

O encontro foi organizado pela Articulação Camponesa de Luta pela Terra e Defesa dos Territórios, pela Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA), com o apoio de diversas organizações, inclusive a Comissão Pastoral da Terra – Regional Araguaia-Tocantins (CPT-AT).

Carta Política da ATA – Articulação Tocantinense de Agroecologia

Durante a programação, que contou com oficinas, rodas de conversa e plenárias, os participantes reafirmaram a defesa da terra, da agroecologia e da vida nos territórios. Como resultado político, foi construída uma Carta Coletiva, que denuncia violações de direitos e aponta caminhos para políticas públicas voltadas ao campo.

A programação contou com oficinas, rodas de conversa e plenárias, reafirmando a defesa da terra, da agroecologia e da vida nos territórios. Foto: CPT Tocantins
A programação contou com oficinas, rodas de conversa e plenárias, reafirmando a defesa da terra, da agroecologia e da vida nos territórios. Foto: CPT Tocantins

A carta destaca a morosidade na regularização de terras indígenas, quilombolas e camponesas; a violência policial e despejos extrajudiciais; a destruição dos babaçuais; o avanço da mineração e do desmatamento; o uso abusivo de agrotóxicos; o fechamento de escolas no campo; o trabalho escravo rural; e projetos como o REDD+ jurisdicional e a hidrovia Araguaia-Tocantins, considerados ameaças à vida nos territórios.

“A carta nasceu da partilha das vivências e análises coletivas. Ela reúne denúncias, mas também afirmações de que precisamos caminhar juntos, fortalecendo as forças sociais, políticas e territoriais. É uma construção feita a muitas mãos e mostra que não estamos sós”, afirmou Rosalva Silva, quebradeira de coco babaçu e artesã do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).

Os movimentos defendem a criação de uma  Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica, a valorização dos saberes tradicionais, a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos, a proteção das águas e florestas e o avanço da reforma agrária com infraestrutura, serviços e crédito. Também reforçam o respeito aos protocolos de consulta das comunidades, previstos na Convenção 169 da OIT.

“A agroecologia está nos nossos territórios, onde produzimos sem veneno, com sementes crioulas e de forma sustentável. Para garantir esse modo de vida, é fundamental a aprovação do PL de Agroecologia, que assegura nossa permanência e sobrevivência.” 

Laelson Ribeiro de Souza, quilombola do Baião e coordenador de Produção e Comercialização da COEQTO.

Confira abaixo a Carta na íntegra.

Sobre o REDD+

Durante oficina no encontro, a pesquisadora Diana Aguiar (UFBA/NECTAR) alertou para três pontos centrais de risco no Programa REDD+ Jurisdicional do Tocantins:

  • Desconsidera áreas não florestais, que seguem ameaçadas de desmatamento;
  • Privilegia quem desmata em vez de quem conserva, reforçando seu caráter de “falsa solução”;
  • Ignora as Salvaguardas de Cancun, especialmente o direito à consulta prévia, livre e informada, garantido pela Convenção 169 da OIT, e os direitos territoriais.

Espaço de trocas

O encontro também foi espaço de saberes e celebração, com feira de sementes crioulas, uso de plantas medicinais, cirandas e manifestações culturais dos povos do campo, das águas e das florestas.

Foto: CPT Tocantins
Foto: CPT Tocantins

“Este foi um momento de resistência e articulação coletiva, onde conseguimos reafirmar nossas pautas e fortalecer a união entre comunidades camponesas, tradicionais e originárias. Essa diversidade reunida é um marco importante na história dos movimentos sociais no Tocantins”, avaliou Ludimila Carvalho, quilombola da comunidade Dona Juscelina e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Confira também:

20.09.2024 – RESISTÊNCIA E PROFECIA: XIII ENCONTRO DE CAMPONESES E CAMPONESAS DA ARTICULAÇÃO DE LUTA PELA TERRA E DEFESA DOS TERRITÓRIOS NO TOCANTINS

27.06.2025 – NOTA PÚBLICA | POR TERRA, JUSTIÇA E DIGNIDADE: AS TERRAS PÚBLICAS DA UNIÃO DEVEM ATENDER AOS INTERESSES DOS POVOS E COMUNIDADES DO CAMPO E NÃO DOS GRILEIROS!

09.07.2025 – MOVIMENTOS SOCIAIS DENUNCIAM IRREGULARIDADES NO PROGRAMA DE REDD+ JURISDICIONAL DO TOCANTINS AO MPF E CONAREDD+

(Texto e imagens: CPT Araguaia-Tocantins e
Articulação Tocantinense de Agroecologia / ATA)

Foto: Comunicação ATA
Foto: Comunicação ATA

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