Comunidade Marielle Franco, em Boca do Acre (AM), denuncia vigilância ilegal e ameaças

Por Comunicação CPT Nacional, com informações da CPT Acre
Moradoras e moradores da Comunidade Marielle Franco, área da antiga Fazenda Palotina, em Boca do Acre (Sul do Amazonas, na divisa com o Acre), denunciam a presença invasora de seguranças de uma empresa privada e o uso de drones espionando a área, que já foi arrecadada pelo Incra para reforma agrária. Os ataques ocorreram na última terça-feira (05).
Através de vídeos compartilhados pela comunidade, é possível ver que os seguranças montaram acampamento e uma guarita de madeira, de onde vigiam ilegalmente a comunidade. “A Empresa Bastos está fazendo um serviço ilegal, fiscalizando uma área que não é particular. Já houve caso de roubo de energia, com a retirada do transformador. Eles ficam armados na guarita, e essa é a estratégia desde o começo: vão chegando aos poucos”, afirma um dos trabalhadores.
As mulheres são as que mais sentem na pele a situação vulnerável de viver em meio ao clima constante de conflito. “Moro na beira da fazenda Palotina, e a gente não pode mais tomar um banho, porque a vida deles é com o drone vigiando a gente a todo momento. Essa noite, eles deram não sei quantos tiros na beira do lago, pertinho da minha casa. A gente fica a mercê deles, e isso provavelmente é um tipo de ameaça. Nós não temos sanitário ainda, e agora ficamos com medo de tirar a roupa ou tentar ir no banheiro, e você não sabe o que fazer. É todo tipo de ameaça que o pessoal da fazenda faz com a gente”, afirma uma trabalhadora.
O desejo das famílias é de que as autoridades resolvam essa situação e deem continuidade ao processo de regularização fundiária: “Não queremos ter conflitos com esse pessoal, porque do mesmo jeito que eles tem peito, a gente também tem. A gente não quer confusão e conflito com ninguém, a gente quer só que o Incra resolva esse problema.”
Histórico de conflitos – A comunidade Marielle Franco ocupa uma área de aproximadamente 50 mil hectares. Deste total, 200 famílias ocupam 20 mil hectares, na região que fica localizada no sul de Lábrea com acesso pelo Ramal do Garrafa (BR 317 – KM 93), Sentido Boca do Acre / Rio Branco. Durante todos esses anos, as famílias enfrentam vários tipos de violências por parte dos fazendeiros e até hoje, tem sido palco de disputa pela terra. De um lado, fazendeiros usam seus poderes econômicos e influências, enquanto do outro lado, as famílias tentam permanecer na terra, onde vivem.
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