“Boca de povo, povo!”: A Fila do Povo no V Congresso da CPT
da Equipe de Comunicação Antônio Canuto para o V Congresso Nacional da CPT

Presente em todos os momentos do V Congresso Nacional da CPT, seja na grande plenária ou nas tendas de compartilhamento de experiências, a Fila do Povo é o grande momento de abertura para a escuta dos clamores e das resistências das comunidades camponesas. Nesta fila, trabalhadoras e trabalhadores têm oportunidade de se pronunciar através de falas, versos, músicas, orações e outras tantas expressões das lutas contra a aliança nefasta entre empresários e o Estado, que facilita e patrocina a entrada de grandes empreendimentos nos territórios.
Confira algumas falas coletadas nestes momentos, algumas identificadas e outras apenas declaradas, em um congresso que, mesmo após seu encerramento, continua apontando luzes para que a CPT continue sua missão profética, de ser peregrina do esperançar e do bem viver.
Depoimentos da Fila do Povo no V Congresso da CPT

“Para onde queremos ir? Porque o capitalismo não nos serve, ele é o nosso principal inimigo, destruidor dos sonhos e dos anseios da humanidade. Nós temos companheiros que não se renderam à exploração e foram assassinados, ou mudaram de lado diante de possíveis ‘vantagens’. Alguma coisa está errada. Se você estiver na luta querendo ‘enricar’, seu lado é do lado de lá. Aqui é a luta e a defesa dos/as oprimidos/as.”
(Luiz Vilanova, pioneiro na fundação do PT, do MST e da CUT)
“Nós somos uma pastoral, mas a maior parte do trabalho nas igrejas é feito pelos trabalhadores/as. O que fazer para que a Igreja participe mais? A gente trabalhou neste ano a Campanha da Fraternidade, levando o tema do meio ambiente para as paróquias, mas na hora de falar, os padres não comentam nada. Como podemos pressionar por uma ‘Igreja em saída’, como o Papa Francisco indicava?”
“Eu me emociono, porque só sabe a dor quem está na terra. Quem é mãe sabe, quem tem seus filhos assassinados. Mas junto com outras mulheres, a gente consegue superar e lutar.”(Trabalhadora rural de Caetés/PE)
“Os jovens são tirados da roça e colocados na cidade, com o engano da facilidade de trabalho. Nas fazendas, quando existem as propostas de emprego para caseiros, exigem que sejam casados, e assim a mulher vai ser escrava e sem possibilidade de saída ou denúncia da violência.”
“A gente tem que retomar, restaurar tudo o que foi tirado de nós, dos nossos corpos, das nossas vidas. Se não lutarmos, vamos morrer ‘cozinhados’ nesta crise climática. Vamos quebrar essas correntes! Basta! Escravidão nunca mais!”

“A gente se emocionou muito neste Congresso porque a gente consegue viver a Igreja-povo que nos faz falta nas nossas comunidades. Eu volto com a ansiedade e a preocupação de discutir e incentivar para que as pastorais sociais, os grupos de reflexão, as CEBs, se fortaleçam e não sejam destruídos pela ala reacionária que tem ocupado as nossas comunidades. Infelizmente vemos nos domingos, em nossas comunidades, um Cristo que não é o Cristo sintonizado com as lutas do povo.”
Marinilda, de Rondônia
“Pra romper cercas, só tecendo teias. Pra lutar na defesa do território temos que nos articular, formar uma frente de mulheres, jovens, pessoas de diferentes culturas, religiões e diversidade sexual. Como dizia o Papa Francisco, “tudo está interligado”, e não só entre pessoas e comunidades, mas com o povo, os bichos, cachoeiras, serras, matas, árvores, o que está debaixo da terra.”
“É petróleo, hidrelétrica, veneno, grileiro, eólica… cada pessoa que conta sua experiência vai fortalecendo o fio da teia, e vendo o que temos em comum na nossa diversidade. Nosso desafio é como recuperar as pessoas e trazer outras que se distanciaram da luta. Tecer teias é se articular em romaria, mutirão, rede e outros espaços coletivos.”
“Sem semente crioula, as comunidades camponesas não têm soberania para produzir seus próprios alimentos, e nem acesso à alimentação saudável.”
“Nós vivemos um crime climático e não uma emergência, porque o principal responsável é o grande capital. Mas nós construímos alternativas a partir de parcerias com o Sertão nordestino, com os bancos de sementes, as ervas medicinais e o armazenamento de água da chuva para os períodos de seca.”

“Muitos homens nas aldeias tentam nos silenciar, mas chamamos outros homens e outras mulheres. Temos que bater o pé, lutar por autonomia e decisão com as mulheres. A Mãe Terra é uma mulher que gera vida, tem útero e está ferida, mas nós temos que curar esta mulher.”
Alessandra Korap Munduruku – Associação Indígena Pariri, Médio Tapajós, Pará
“Onde corria água, agora grita a terra. Os rios, que são fontes de vida, precisam de proteção e preservação. Eles estão vivos, não estão mortos, mas estão muito doentes.”
“Se o campo não planta, a cidade não janta!
Se o campo não roça, a cidade não almoça!”

“As ameaças assustam
Mas não calam o tambor
Porque a coragem do povo
É maior que o opressor
Mesmo com o medo à porta
Não há passos para trás
Pois quem defende a justiça
Vai até o fim e faz
Insistir, resistir
Pelo direito de existir.”
(Trecho da apresentação "Romper Cercas" - tenda Tambor da Mata)