Escritor doa direito autoral de seu livro à Pastoral da Terra

Por Folha da Manhã

“Preso pela Carne e pela Alma”, obra do escritor campista Carlos Eduardo Gonçalves Wekid, teve seus direitos autorais doados para a ação “Chega de Escravidão“, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), instituição vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O romance conta a história de João, um sertanejo da região semiárida nordestina, que representa a história de milhares de brasileiros, acorrentado pelo trabalho escravo. Segundo o autor, a história inicial foi um conto (João Brasileiro), que, em 2000, classificouse em 8° lugar no XIII Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba (SP).

Em sua estrutura, o autor dividiu a narrativa de “Preso pela Carne e pela Alma” em três partes, constituídas de 19 seções com começo, meio e fim, formando assim a grande narrativa. Na primeira parte. João constitui família em uma região de miséria; na segunda, atravessa largo período de seca extrema; na terceira, é aliciado e levado para outra região do pais, onde trabalha em mão de obra análoga à escravidão.

Do conto “João Brasileiro” de quatro páginas, nasceu a obra de 172 páginas. “E, para que a história fosse verossímil, por dois anos, pesquisei a vida e a cultura do sertão nordestino, os períodos de seca vivenciados pelos sertanejos nos anos de 1990 e a escravidão contemporânea. Para isso, li centenas de histórias e conversei com especialistas, a fim de que a história pudesse representar e contextualizar as histórias lidas, conta o autor como se deu o processo de criação.

Segundo Carlos Eduardo, ao ler um livro, o leitor quer sentir a arte nas palavras e a emoção pelo contexto. “Para falar do meu Livro, faço uma comparação. Quando olhamos uma paisagem da seca, sempre a achamos feia. Quando olhamos um quadro pintado dessa mesma região de seca, sempre o achamos lindo. Assim opinamos porque existe arte, que transforma o feio em belo. De igual forma, usei a literatura para transformar a situação de tristeza do sertanejo em uma história carregada de beleza e emoção. A obra traz uma reflexão sobre os valores materiais e também sobre o valor da liberdade. João, preso pela carne ao local onde se torna escravo e preso pela alma ao sertão nordestino, percebe que a miséria onde vivia é sua grande fortuna, explica. (D.P.P.)

Conversa com o leitor

“Em minhas pesquisas sobre a escravidão, contei com informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT), instituição vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e, de forma especial, com a atenção do frei Xavier Plassat, agente da CPT Tocantins e membro da coordenação da campanha ‘De Olho Aberto Para Não Virar Escravo‘, que me contava histórias e validava o que escrevia. Por meio dessa campanha nacional, a CPT realiza ações de conscientização e prevenção sobre o tema, presta apoio às pessoas resgatadas e encaminha denúncias aos órgãos competentes. Em 2023, a instituição criou a ação ‘Chega de Escravidão’, com a finalidade de arrecadar recursos.

Costuma-se pensar que a escravidão foi efetivamente extinta pela Lei Áurea. Na verdade, ela está muitas vezes ao nosso lado, sobretudo na área rural. E não vamos longe. Grande parte da população de nossa cidade desconhece que Campos dos Goytacazes é a quinta cidade do pais em resgates de agricultores em situação de mão de obra análoga à escravidão. Em fazendas de cana-de-açúcar da nossa região, de 2003 a 2011, foram 964 trabalhadores resgatados – 521 somente em 2009. Em sua maioria, agricultores oriundos do sertão nordestino. Em todo o pais, de 1995 a 2023, foram 57.041 resgatados somente na área rural, segundo dados do RADAR STI, do Ministério do Trabalho.

A escravidão contemporânea é um assunto que deveria estar nas salas de aula de todo o País. Como a história do livro traz simultaneamente todos os critérios legais que caracterizam essa escravidão, seria adequado para a prática de leitura.
A doação está informada no portal da CPT Nacional. O livro “Preso pela Carne e pela Alma”, da Casa Editorial, pode ser comprado no portal Um Livro.

As pessoas que me ajudaram diretamente ao escrever estão no prefácio do livro: frei Xavier Plassat e padre Ricardo Resende. Outro que validou e me ajudou é Cláudio Secchin, que não está mais no Grupo Móvel do Ministério do Trabalho”.

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