Entre a luta e a resistência, a esperança de dias melhores pelo acesso à terra de se viver, trabalhar e celebrar

Famílias que ocupam há cerca de 20 anos a área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Boa Esperança conquistam Contrato de Concessão de Uso, em Mato Grosso

Por CPT Mato Grosso
Edição: Júlia Barbosa (Comunicação Nacional da CPT)
Fotos: Pedro Velasco (assessoria de comunicação do deputado estadual Valdir Barranco),
Prefeitura de Novo Mundo-MT e CPT MT

Desde 2005, cem famílias do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Boa Esperança, localizado na Gleba Nhandú, do município de Novo Mundo, em Mato Grosso, estão lutando por uma pequena área, para construírem juntas um grande sonho: uma terra em que se possa viver, trabalhar, se alimentar, conquistar sua renda, criar seus filhos e celebrar. 

São duas décadas de muita luta, resistência, derrotas, desesperos, esperanças, vitórias, choros e alegrias. Duas décadas de teimosia, sagrada teimosia, mantendo firme seus sonhos e o sonho de Deus de seu povo obter a terra: “Mas os pobres vão possuir a terra e deleitar-se com paz abundante” [Salmos 37, 11]. 

Em compromisso com esse sonho, fiel ao Deus dos pobres e aos pobres da terra, a Comissão Pastoral da Terra no Mato Grosso acompanha e apoia a luta das famílias desde o início. Com a nova conquista, a CPT-MT destaca sua importância como “símbolo de esperança para aqueles e aquelas que ainda aguardam o acesso à terra, como é o caso dos acampamentos, Renascer e Cinco Estrelas”, os quais também são acompanhados pela CPT-MT.

Agora, mesmo que a luta não tenha terminado, a conquista pelos camponeses e camponesas do ‘Contrato de Concessão de Uso’ (CCU), após anos de resistência frente às violências de fazendeiros e grileiros, além da morosidade e conivência do Estado, representa um grande passo em direção à vitória para essas famílias. O CCU é o documento da terra que garante, além da segurança, a possibilidade de acessar recursos para trabalharem, produzirem e viverem. Em pouco mais de seis mil hectares – diante do total de 14.796 hectares da área -, as famílias terão um pouco mais de dignidade, como disse o Papa Francisco: “Trabalho quer dizer dignidade, trabalho significa trazer o pão para casa, trabalho quer dizer amar!” [2013]

Assim é esta terra pela qual sonham e lutam! E pela qual tiveram essa grande e importante conquista. Agora, inicia-se a paz desejada por Deus, dita pelos Salmos. Uma paz necessária diante de tamanha brutalidade, injustiça, criminalidade e marginalização sofridas em todos estes anos. 

Diversas ações violentas de jagunços, com suas armas, em que barracos (80 casas), carros, motos e roças foram queimados, além das ameaças de morte. Nem as crianças escaparam, elas sofreram agressões, lesões corporais e até gasolina jogada em seus corpos durante a queimada no acampamento. Essas ações criminosas não se limitam à violência do fazendeiro/grileiro Marcelo Bassan e seus pistoleiros, mas da própria “justiça”, com seus despejos judiciais, jogando como coisas essas cem famílias à ainda maior vulnerabilidade. Violência mais criminosa quando é contra as 65 crianças e 22 idosos que vivem desde quando era acampamento, até ser pré-assentamento. 

 “Ai daqueles que planejam a iniquidade e que tramam o mal em seus leitos! Ao amanhecer, eles o praticam, porque está no poder de sua mão” Miquéias 2,1.

 Agora, com o CCU dessa terra – terra de vida – estes homens e mulheres, depois de 20 anos, podem suspirar e, além de continuar a lutar e resistir, podem continuar a produzir suas batatas, hortaliças, mandiocas, abóboras, jilós e criar suas galinhas e porcos. É o suspiro da criatura oprimida! Uma luz de esperança e paz até a conquista final.

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