Entre linhas e lutas, mulheres da CPT se reúnem para celebrar suas trajetórias 

Tecendo coragem e resistência, Coletivo de Mulheres da CPT se reuniu para partilhar suas histórias, desafios e resgatar a importância feminina nos 50 anos da Pastoral

Por Larissa Rodrigues (coordenação CPT Rondônia), Ana Carolina Goulart (CPT Minas Gerais) e Elaine Ferreira (coordenação CPT Espírito Santo/Rio de Janeiro)

Edição e Fotos: Heloisa Sousa

Entre 21 e 25 de outubro de 2024, nos reunimos em Hidrolândia (GO), como Coletivo de Mulheres da CPT, para tecer nossas histórias e fortalecer nossas vozes. Viemos de diferentes lugares, trazendo no corpo-território e na memória a resistência das mulheres camponesas, indígenas, quilombolas e ribeirinhas. 

Entre conversas e místicas, compartilhamos desafios, reencontramos nossas trajetórias, celebramos a luta das mulheres que caminharam com a CPT nesses 50 anos em diferentes gerações e renovamos nossos compromissos com a justiça e a dignidade. Foi momento de rememorar as histórias das companheiras que contribuíram para o nosso processo de pastoral e nos ajudaram a chegar até aqui.

O encontro foi facilitado por Elisa Estronioli, coordenadora nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que nos apresentou a técnica das Arpilleras. Nessa técnica têxtil, que tem raízes numa tradição popular iniciada por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, no litoral chileno, retalhos e sobras de tecidos são bordados sobre sacos de batatas ou de farinhas. Com agulhas e linhas as mulheres denunciavam as violências sofridas na ditadura, transformando tecido em símbolo de luta e esperança.

Na sinergia do nosso coletivo, nos dividimos em grupos e, juntas, demos formas as nossas dores, felicidades e indagações utilizando a arte das arpilleras. Como parte desse processo, escrevemos uma carta para cada uma das cinco arpilleras confeccionadas, que carregam o sentido e o sentimento de quem as borda, como um grito libertário:

“Convertemos nossa arte na linha do tempo, simbolizando anseios e desejos. Retratamos a igreja que nos acolhe, nos prende e nos liberta. A ciranda, a música, a dança, o sorriso nos animam nos processos de defesa das águas, da terra e das florestas, em suas várias formas de vida. Acreditamos na agroecologia como modo de vida que alimenta os povos e constrói a casa comum. As quebradeiras de coco resistem pela terra e pela palmeira de babaçu, que para elas é a ‘mãe de leite’. Não existe território livre com corpos presos, não existem corpos livres com palmeiras presas.”

Também ecoamos denúncias:

“Nossas realidades estão marcadas pela violência: povos indígenas assassinados, camponeses expulsos pela grilagem, mineração que envenena as águas, queimadas que destroem florestas para dar lugar ao gado e à monocultura. Oferecemos nossas arpilleras como grito de denúncia e resistência diante de tudo que enfrentamos em nossos territórios.”

Mas não foi só a dor que nos uniu:

“A dor e a alegria de ser mulher, filha, mãe, companheira e agente de pastoral, nos acompanha todos os dias. Sob o peso das tarefas cotidianas, o assédio moral e sexual, a misoginia, o machismo, o impedimento da participação efetiva em espaços de decisão e políticos, a desqualificação. Nós somos resistência.” 

Reafirmamos nossas identidades e a força das mulheres que constroem a Pastoral em cada território:

“Somos desafiadas diariamente a nos reinventar e reescrever nossas histórias. E não é qualquer história. É uma história coletiva, que lembra as mulheres que vieram antes de nós, as companheiras que caminham ao nosso lado hoje e aquelas que virão depois. Reafirmamos nossas identidades indígenas, negras, camponesas, das florestas e das águas.” 

Nosso grito foi um eco das vivências, dores e resistências, conectando passado, presente e futuro no Jubileu da CPT:

“Somos descendentes da Mãe-Terra que enraíza em cada uma de nós, de diferentes territórios do Brasil. Dançamos ciranda em coletivo, porque nem sempre nas instâncias de nossas organizações somos ouvidas, temos espaço ou vez.” 

Esses relatos expressam a voz de mulheres agentes, coordenadoras, conselheiras e voluntárias que, com coragem e amor, tecem lutas e esperanças nos caminhos da CPT. 

Somos muitas! Somos resistência viva!

Arraste para o lado e confira as fotos.
Arraste para o lado e confira as fotos.

Saiba mais sobre o encontroParticipando sem medo de ser mulher: Coletivo de Mulheres da CPT se reúne em Hidrolândia (GO)

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