Comissão Pastoral da Terra celebra 30 anos em Roraima 

“A terra é mãe, a mãe é amada, preservada, é fecunda. Uma mãe tem coração para abraçar a todos”, disse irmã Elsa Maria Fiorin, em depoimento. 

Por Evilene Paixão
Fotos: Vanessa Xavier

Representantes de movimentos sociais, pastorais sociais, amigos e amigas estiveram reunidos no último sábado (17/05) para celebrar os 30 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), regional Roraima. O evento contou também com diversos depoimentos de ex-integrantes da equipe por meio de vídeos e áudios, que hoje não vivem mais em Roraima, como padres, irmãs e irmãos missionários, além de leigos. O público presente também expõe seu carinho e admiração pela trajetória da CPT, que tem como missão o serviço à causa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, com uma presença solidária, profética, ecumênica, fraterna e afetiva, que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e das águas. 

Para a trabalhadora rural, Maria Mendonça, migrante do estado do Maranhão e moradora do município de Iracema, que integra a equipe há quase 30 anos, falar da sua jornada junto a CPT lhe traz muita emoção. “Eu cheguei em Roraima em 1994 e logo pelos anos 1995 e 1996 eu comecei, através do envolvimento dentro da igreja católica, percebi essa pastoral junto a irmã Maria Celina, nas comunidades do interior de Mucajaí. Ali que muitas vezes nos encontrávamos nos encontros de catequese e liturgia, assim que tive acesso e estamos por aqui até hoje. Nós não somos assim um grupo tão grande, é uma equipe que se coloca à disposição dos trabalhadores e trabalhadoras inclusive os povos originários”, ressalta.

O representante da coordenação colegiada da CPT, Eduardo Freitas, destaca que nesses 30 anos, a organização tem feito o acompanhamento pastoral das comunidades, denunciando a violações de direitos, a promoção da justiça socioambiental, defendendo à agroecologia e soberania alimentar “A CPT em Roraima é mais do que uma entidade: é sinal de esperança viva para os que lutam pela terra e pela dignidade. É memória que não se apaga, resistência que se fortalece e fé que se encarna no chão dos excluídos”, disse.

Para o bom funcionamento e andamento das atividades, a CPT-RR tem apoio financeiro da instância nacional, com sede em Goiânia, mas também atualmente, com a necessidade do fortalecimento institucional, a comissão em Roraima recebe subsídios do Instituto Clima e Sociedade (iCS), que é uma organização filantrópica que apoia projetos e instituições que visam o fortalecimento da economia brasileira e do posicionamento geopolítico do país, além da redução da desigualdade por meio do enfrentamento das mudanças climáticas e soluções sustentáveis.

“O bom êxito abriu portas para a continuidade através de projetos mais elaborados e acompanhados com os gestores do ICS, no caso quem nos acompanhou foi a Maíra. Estamos finalizando o segundo projeto e encaminhando para o terceiro. Além do fortalecimento institucional contamos com o apoio no tema uso da terra”, explicou Laurindo Lazzaretti, do setor administrativo da CPT-RR. 

Outras ajudas financeiras para os desenvolvimentos em atividades também foram possíveis graças a outros passeiros como a diocese de Padova na Itália, Missionzentrale der Franziskaner (MZF, centro Missionário Franciscano) e aos Freis da Ordem dos Capuchinhos (da Areia Missionária de Rorainópolis/RR) 

Depoimentos enriquecem e fortalecem a caminhada da CPT

Entre as diversas participações da confraternização de 30 anos, a CPT-RR recebeu o depoimento do Frei Vilson José, que esteve em Roraima de 2007 a 2013, desses anos na Diocese, cinco foram dedicados a CPT, fazendo parte da coordenação colegiada. Segundo o Frei, à época foram anos com muitos desafios, com poucos recursos financeiros e com o compromisso de remodelar as equipes de base, ao mesmo tempo que também envolveram pessoas das áreas do conhecimento para ajudar a pensar na realidade local e dar respostas aos gargalos enfrentados pelos agricultores e agricultoras, com a produção do Caderno de Conflitos da CPT.

“Por isso começamos a fazer contato com agrônomos, professores de diversas áreas, defensoria pública e retomar os laços e diálogos com outras entidades que enfrentavam a questão da terra como o CIR, CIMI, Nós Existimos e tantos outros. Foi assim que levamos para o espaço acadêmico, a universidade, a divulgação e lançamento do Caderno de Conflitos”, relembra.

Já a irmã Jeane Beliini, da diretoria nacional da CPT, disse que em 2019 conheceu as equipes de Roraima, Amazonas e Amapá. Em Roraima, o que chamou sua atenção foi o espírito missionário de aproximação junto ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI), com trabalhos em conjunto. “A proximidade com as organizações camponesas e indígenas também chamou atenção. Quando se fala em confraternização, então, vamos celebrar o dom da comunhão, da relação fraterna entre a CPT e os diversos grupos parceiros de caminhada. A soma dá uma força e energia na confirmação da missão CPT e CIMI, como agentes de pastorais e das congregações”, enfatizou.

“A Pastoral da Terra sempre foi a minha paixão, ainda hoje eu caminho nesse sentimento nas pequenas culturas, nas plantas medicinais, nas hortas caseiras, nos quintais com aipim, limoeiros, quiabos, sorgo, batata-doce e também feijão-de-corda”, essas são as palavras da irmã Elsa Maria Fiorin, que enviou em formato de áudio lembrando das lembranças com muito carinho da época que viveu sua missionariedade com a equipe da CPT-RR. 

Irmã Elsa Maria ainda destacou as oportunidades de formação que foram investidas pela Diocese de Roraima por meio da CPT aos grupos de base, as famílias de agricultores. “Muita formação no interior, que sofreu muito em litígio de terras, conflitos sérios, especialmente, nas regiões ribeirinhas onde se discutia espaço de pesca. Acolho com carinho a todos que estão a frente, na luta pela terra. A terra é mãe, a mãe é amada, preservada, é fecunda. Uma mãe tem coração para abraçar a todos”, deixa a mensagem. 

Atualmente a equipe da CPT em Roraima é composta pela coordenação colegiada com Vilma Augusta da Silva, Maria da Silva Mendonça e Eduardo do Nascimento Freitas, e pelo Conselho Fiscal, composto por irmã Cirila Francisca Zambom, irmã Lusete Morelli, Missinalva Andrade Sousa, Vanessa Xavier da Silva, Maria José dos Santos, Laurindo Lazzaretti, Oriel de França Costa e Antônio Nascimento de Almeida.

Algumas atividades recentes realizadas na CPT Roraima

21.06.2024 – CPT PARTICIPA DE MISSÃO EM RORAIMA JUNTO À COMISSÃO CONTRA O TRÁFICO HUMANO DA CNBB, DURANTE A 39ª SEMANA DO MIGRANTE

22.11.2024 – CPT REALIZA FORMAÇÃO “JURISTAS POPULARES” PARA AGENTES E LIDERANÇAS DOS ESTADOS DO AMAZONAS, RORAIMA E AMAPÁ

10.12.2024 – MOBILIZAÇÃO INDÍGENA EM RORAIMA SEGUE FIRME CONTRA OS PROJETOS DE LEI QUE AMEAÇAM A EXISTÊNCIA DOS POVOS E TERRITÓRIOS

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