MOQUIBOM divulga Nota em que denúncia ações do governo contra os povos tradicionais

O Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) divulgou Nota denunciando medidas do governo que colocam em risco direitos constitucionais dos povos originários. Confira o documento:

 

Pisa Ligeiro, pisa ligeiro.

 

Quem não pode com quilombos não assanha seus guerreiros!

 

Nós, quilombolas do Maranhão, reunidos em Mangabeira-Santa Helena (MA), dirigimo-nos aos irmãos e irmãs Quilombolas e Povos Indígenas do Brasil, às Igrejas, às Religiões e a toda a Sociedade Brasileira para denunciar a continuidade do extermínio dos povos tradicionais por parte do Estado Brasileiro Racista.

 

Há mais de 500 anos sofremos na pele a força e crueldade dos canhões: os navios nos quais fomos trazidos da Mãe-África; a escravidão para a produção das riquezas das elites; a destruição de milhares de quilombos e o assassinato de nossos ancestrais; a demonização de nossas Religiões e tantos outros. Mas não nos deixamos vencer. Resistimos com a força de nossos Ancestrais, nossos Orixás, Caboclos e de Jesus de Nazaré.

 

Nossa Resistência e nossas Lutas fizeram com que o Estado Brasileiro reconhecesse nosso Direito aos nossos Territórios tradicionalmente ocupados, à nossa Cultura, à nossa Religião. Ainda por causa de nossa luta, as mais diversas Instituições do Estado Brasileiro estão se articulando para promoverem  a extinção dos Direitos garantidos na Constituição Federal que continuarão o genocídio.

 

Diante dessa situação vimos denunciar:

O Poder Legislativo – onde Projetos de Lei e Propostas de Emenda Constitucional – PEC 215 e outras – das bancadas ruralista e evangélica visam exterminar direitos consagrados na Constituição Federal;

 

O Poder Executivo  –  com a continuação da politica de cortes de recursos que resulta no sucateamento dos órgãos fundiários – INCRA, ITERMA, FUNAI – e na paralisação dos processos de demarcação das Terras Indígenas e Titulação dos Territórios Quilombolas;

 

O poder Judiciário – onde tramitam centenas de Ações de Reintegração de Posse que se destinam a nos condenar à miséria e à morte nas periferias das cidades vítimas do tráfico de drogas e das polícias dos governos, além da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 3239 – contra o Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento de Reconhecimento, Demarcação e Titulação dos Territórios Quilombolas.

 

Como se não bastassem tantas atrocidades, no último dia 15 de maio de 2013, 202 deputados federais assinaram pedido de abertura de CPI para investigar a FUNAI e o INCRA com a finalidade de pôr fim às Demarcações de Terras Indígenas e Titulações de Territórios Quilombolas.  Da Bancada Maranhense assinaram esse Pedido de CPI os deputados: ALBERTO FILHO – PMDB; CARLOS BRANDÃO – PSDB; DAVI ALVES SILVA JÚNIOR – PR; FRANCISCO ESCÓRCIO – PMDB; LOURIVAL MENDES – PT do B; PROFESSOR SETIMO WAQUIM– PMDB; SIMPLÍCIO ARAÚJO – PPS; HÉLIO SANTOS – PSD; e WEVERTON ROCHA – PDT.

 

Causa indignação saber que o objeto da investigação da CPI já está previamente determinado como inconstitucional pelos deputados que farão a investigação. Eles são os maiores interessados por serem latifundiários ou financiados pelas empresas que tem interesses nos territórios dos quilombolas e povos indígenas para a implantação de projetos de monocultivos, barragens ou mineração. Todos já sabemos qual será o resultado dessa CPI se ela for instalada.

 

Diante disso, afirmamos:

Não nos reconhecemos representados por um Congresso formado em sua maioria por latifundiários e por uma elite racista;

 

As riquezas do país devem ser colocadas a serviço de todos e não apenas dos interesses dos banqueiros, dos latifundiários que matam e desmatam, das empresas de mineração que exploram nosso solo e subsolo.

 

Os Magistrados e Magistradas que, de seus Palácios de vidros, pronunciam sentenças de morte de nossos companheiros e companheiras responderão diante do Trono de Deus.

 

E proclamamos:

Seguiremos lutando pela libertação da Terra das cercas do latifúndio;

 

Seguiremos lutando por nossa libertação;

 

Seguiremos buscando a convivência harmoniosa entre nós, povos da terra; entre nós e a criação de Deus; entre nós e Deus.

 

Pois assim diz Javé:

“Eu não vou perdoar: porque vendem o justo por dinheiro e o necessitado por um par de sandálias; pisoteiam os fracos no chão e desviam os caminhos dos pobres… Por isso vou abrir o chão debaixo de vocês como abre o chão uma carroça carregada de feixes. Oráculo de Javé!” (Am 2, 6.12-13).

 

Mangabeira – Santa Helena (MA), maio de 2013

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