COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

O moderno Teatro Municipal de Santo André – SP acolheu cerca de 40 pessoas, no dia 09 de maio, para o lançamento da publicação Conflitos no Campo Brasil 2014. O evento, conduzido por Andrelina Vieira, agente da CPT São Paulo, tornou-se um debate sobre a conjuntura política e econômica do campo brasileiro no atual momento.

 

 

(relato Ruben Siqueira / fotos Pe. Stephan Gichohi)

 

Antes, vídeos apresentados pelo Pe. Filotheos fizeram a memória de D. Paulo Cardeal Arns, 93 anos, e relembraram os lançamentos anteriores da publicação Conflitos no Campo Brasil, numa homenagem a Dom Tomás Balduino, um ano depois de seu falecimento, no dia 02 de maio.

Na abertura, Dom Nicolau, bispo da Igreja Católica Ortodoxa em São Paulo, trouxe as dimensões mais profundas da questão da terra, hoje, no Brasil e no mundo. Segundo ele, a inversão dos valores de um falso humanismo, sem transcendência, tem levado à ruína a vida, os bens da terra e o próprio futuro da humanidade e do planeta. O deputado federal pelo PT-SP, Nilto Tatto, falou das dificuldades do Congresso conservador e o risco de perdas importantes nos direitos já conquistados pelas classes trabalhadoras e pela cidadania.

Na análise exposta pelo ex-presidente do INCRA-SP, Raimundo Pires, ficou evidente que a permanência da questão agrária no Brasil é funcional ao sistema capitalista, que pode ser definido como “dinheiro buscando mais dinheiro”. Sobre quase metade do território nacional não temos conhecimento, é terra sem controle do Estado, à mercê deste rentismo, a renda da terra via banco e crédito. Por isso, a violência sistemática contra quem, por desventura, esteja lá “atrapalhando” o negócio – posseiros, indígenas, quilombolas, extrativistas. Neste sistema, muito poucos participam e ganham. Então, de quem é a tão falada crise atual? Se é destes que usufruem do sistema, não é a sociedade dos que trabalham que deve pagar a conta, com desemprego, inflação, preços altos, precarização do trabalho e dos serviços.

Sobre este pano de fundo, Ruben Siqueira, da CPT Bahia e da coordenação executiva nacional da CPT, apresentou os dados dos conflitos em 2014 e dos 30 anos em que a CPT os documenta e publica. O destaque, que chamou atenção dos presentes, foi para os dados referentes às regiões Sul e Sudeste, que apresentaram o maior crescimento do número de conflitos em 2014, concentrando 102 das 205 ocupações e 11 dos 20 acampamentos. Sinal da retomada das lutas pela reforma agrária. Quanto aos dados de 30 anos (1985-2015), impressionou a enormidade deles: quase 30 mil conflitos envolvendo 20,6 milhões de pessoas, 1.723 assassinadas. A impunidade, porém, é a marca principal dos crimes do latifúndio, que os incentiva e perpetua.

Os comentários seguintes dos representantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), Gabriel, e da ABRA (Associação Brasileira de Reforma Agrária) e do Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo, Gabriel Pereira, apontaram para os desafios graves e urgentes da conjuntura, a exigir clareza na análise e unidade na ação, campo e cidade mais próximos, talvez como nunca tenha sido antes tão necessário.

A mística e a beleza da luta no campo ficaram por conta de jovens indígenas do Povo Guarani, do bairro paulista de Parelheiros, que em dois momentos cantaram em sua língua, louvando a conquista de sua Terra Indígena Tenondé Porã. A partilha do alimento farto, conseguido de doações, confirmou a característica sustentabilidade da CPT-SP, fruto também de sua boa articulação política.

 

 

 

 

 

 

 

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