Interceptações telefônicas realizadas durante a operação Rios Voadores levaram à reabertura da investigação por tentativa de homicídio.
(MPF)
Investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) sob a suspeita de comandar o maior esquema de desmatamento já detectado na Amazônia, preso preventivamente na operação Rios Voadores, e já denunciado pelo MPF por submeter pessoas a trabalho escravo, o pecuarista Antônio José Junqueira Vilela Filho, conhecido como AJ Vilela, foi alvo de mais uma ordem judicial de prisão preventiva, cumprida na última terça-feira, 9 de agosto, em São Paulo, na penitenciária “Dr. José Augusto César Salgado”, de Tremembé, onde AJ está desde 8 de julho devido à prisão preventiva relativa à operação Rios Voadores.
O novo decreto de prisão, expedido pelo Juízo da Comarca de Teodoro Sampaio, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), fundamentou-se em provas que apontam AJ Vilela como líder de um grupo que em 2015 tentou matar a trabalhadora rural sem-terra Dezuíta Assis Ribeiro Chagas. A tentativa de assassinato ocorreu no acampamento 1º de Maio, na cidade de Euclides da Cunha Paulista, no interior de São Paulo, na região conhecida como Pontal do Paranapanema. O acampamento estava instalado ao lado da fazenda Rio Alegre, chamada de fazenda AJJ. AJJ é como é conhecido o pai de AJ Vilela, Antônio José Junqueira Vilela.
“Os homens chegaram de carro, cercaram o acampamento e iniciaram os disparos contra os barracos. No momento só havia uma pessoa cuidando do local. Quando viu a movimentação, procurou se proteger e pediu ‘clemência por sua vida’. Um dos homens se aproximou e disse que daria até o dia seguinte para todos deixarem o local, caso contrário retornariam. Em seguida atiraram no cachorro de uma das acampadas e atearam fogo em todos os barracos, queimando roupas, fogões, móveis e demais pertences das famílias”, noticiou na época a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Desarquivamento — O inquérito policial que apurava a tentativa de homicídio havia sido arquivado por falta de provas. A prisão desta semana, solicitada à Justiça pela Promotoria de Teodoro Sampaio, foi possível porque o MP paulista utilizou provas coletadas nas investigações da operação Rios Voadores para oferecer a nova denúncia contra AJ.
Os diálogos colhidos nas interceptações telefônicas conduzidas pelo MPF, compartilhadas com o MPE, permitiram esclarecer a autoria dos crimes de tentativa de homicídio e outros praticados por AJ e seu grupo na região oeste do Estado de São Paulo.
Agora, AJ está preso por força das provas que apontam ser ele o autor de crimes de desmatamento de mais 300 km quadrados em Altamira, submissão a trabalho escravo, fraudes financeiras e outros relacionados a Operação Rios Voadores, no Pará, e também como acusado da prática de tentativa de homicídio e outros crimes no Pontal do Paranapanema, em São Paulo.
Para os membros do MPF no Pará e do MP de SP que atuam nas investigações, “esse resultado revela a importância do compartilhamento de informações e da atuação integrada do Ministério Público Brasileiro na defesa da sociedade”.