Mudar o sistema, não o clima! Este é o tema da 34ª Romaria da Terra e das Águas que acontece de 8 a 10 de julho na Lapa – BA. Mais uma vez, romeiros de todos os cantos do Estado estarão reunidos partilhando experiências, lutas, ropostas e esperanças. Nesta edição, as várias mudanças climáticas - esquentamento da terra, queda da qualidade do ar, ondas de calor, elevação do nível do mar, derretimento de geleiras, enchentes, secas, entre outras – nortearão as reflexões da Romaria.

 

 Entre São João e a seca no semi?árido vem a nossa Romaria da Terra e das Águas ao Bom Jesus da Lapa – Bahia. Nosso coração já se alegra com esta proximidade, em imaginar a gruta, o crucifixo milagroso, o rio São Francisco, os irmãos e as irmãs de todo canto, as trocas de experiências, as rezas, a partilha fraterna, a festa... Já nos vemos lá, convocados pelo Bom Jesus!
 

Nossa romaria deste ano, 34ª, está em continuidade à do ano passado. Lembram?se? Perguntávamos: TERRA MÃE, PARA ONDE VAMOS? Diante dos graves e crescentes problemas que a humanidade vem causando ao planeta, a pergunta era um grito angustiado, mas também de esperança. O tempo vai se encurtando para ainda reverter o quadro e salvar a vida na terra, mas também crescem os conhecimentos, as informações e as resistências. Por isso, a romaria volta ao tema, para aprofundar nossa compreensão, avolumar nossas preces e aumentar nossa luta. E propõe: MUDAR O SISTEMA, NÃO O CLIMA!

Para que possamos realizar o que propõe o lema desta romaria: "Os pobres possuam a terra e nela se deleitem com paz abundante" (cf. Salmo 37,11). Entre possuir e deleitar, está o cuidar! São várias as mudanças climáticas que se têm observado: esquentamento da terra, queda da qualidade do ar, ondas de calor, elevação do nível do mar, derretimento de geleiras, enchentes, secas etc. Muito se deve a processos naturais, mas a ciência tem mostrado que estão agravados pela intervenção humana. Nos últimos 250 anos, desde a chamada Revolução Industrial (1750), os avanços tecnológicos e a produção em larga escala têm degradado o meioambiente, ferido a terra, poluído o ar, contaminado as águas...
 

Na virada do século e do milênio, a humanidade se encontra numa situação de crise generalizada, que alguns já qualificam como “crise de civilização”... Quer dizer que nosso modo de viver, de se relacionar com o planeta, “nossa casa comum”, e entre nós, a humanidade, não tem mais como continuar, é preciso reinventá?lo, antes que seja tarde.

Na verdade, vivemos uma combinação de crises que se cruzam e se sobrepõem, levando a este ponto, para alguns, já terminal. A crise do aquecimento global tem sido a mais badalada, talvez porque ameace a todos. Porém, tem a crise
econômica, da qual a crise financeira é só uma parte. Esgota?se a economia voltada apenas para altos lucros com papéis especulativos. Com o fim anunciado das reservas de petróleo, gás e carvão, instala?se uma inédita crise energética. A água, o elemento essencial à vida, torna?se escassa, pela poluição e má distribuição – crise hídrica.
Aumentou a produção de alimentos, mas também a fome. A crise alimentar tem a ver com o domínio da produção agrícola por poucas empresas que vão monopolizando terras, águas, tecnologias, insumos, sementes.
Todas estas crises acabam impactando mais os pobres do que quaisquer outros setores da sociedade. Basta ver quem mais sofre com as enchentes, os deslizamentos de encosta, os tsunamis, as secas... As metas de redução da fome e da sede, estabelecidas pelas Nações Unidas, têm sido frustradas. No mundo já são perto de um 1 bilhão os famintos, cerca de 1,1 bilhões de pessoas não têm acesso à água tratada e por volta de 2,6 bilhões não têm instalações básicas
de saneamento... Até 2030, mais da metade dos habitantes do planeta poderá não ter água suficiente, correndo o risco de desaparecer...
 

Conferências, cúpulas, reuniões entre países e governantes e empresários têm sido realizadas, mas ficam na conversa, não tomam medidas eficazes para ao menos frear este processo. Quando muito agregam a palavra “sustentável” ao
“desenvolvimento” e buscam até lucrar com mecanismos “limpos”, propostas “verdes”...

 


Carta Convocatória

Contudo, só piora o quadro de destruição do planeta. Se o padrão de vida buscado pela humanidade for o dos países ricos, seriam necessários dois planetas terra! Acontece que apenas 20% da humanidade consomem 80% de todos os recursos, bens e serviços. Não são mais que 325 famílias!

 


Na verdade, este é o problema que não se quer encarar e resolver: o sistema capitalista que rege o mundo, hoje sob os ditames do neoliberalismo, aprofundou ao máximo a degradação da natureza e da humanidade. Não servem mais
arranjos paliativos e medidas cosméticas, sem atingir a raiz do mal. Se não mudar este sistema de vida e de relações sociais e econômicas, podemos esperar pelo pior. Isto é o que exige a 34ª romaria.

 


Quem vem para a Romaria da Terra e das Águas ao Bom Jesus da Lapa, vem carregado de experiências, lutas, propostas, esperanças. As comunidades locais, os grupos, os territórios tradicionais, as organizações populares experimentam e buscam outro sistema de vida, equilibrado, justo, igualitário, respeitoso de tudo e todos que formamos a Comunidade da Vida, seres da natureza interdependentes, co?responsáveis, solidários.

 


O que a romaria pede é que esta “ecologia social e política” – “ecologismo dos pobres” – seja fator de mudança do sistema. Na Lapa é o que vamos testemunhar!
Este ano, mais que em outros, não nos faltam Testemunhas (Mártires) a lembrar e seguir: Marilene, da CPT da Lapa,

 


Marta, da CPT Regional Bahia, D. Francisco, ex?bispo da Lapa, D. Ricardo, bispo de Barreiras, Dona Rosa, nonagenária liderança do Quilombo Lagoa das Piranhas, e Comblin, o Padre Zé, da teologia da libertação profunda, das escolas missionárias dos agentes leigos...
É com o testemunho deles e a força do Bom Jesus que vamos mudar o sistema de morte, semeando a vida!

 


Somos todos bem?vindos e bem?vindas à 34ª Romaria da Terra e das Águas!

 

 Boa preparação! Boa romaria!